segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Baú da Cecília

Colar de Carolina

Com seu colar de coral,

Carolina

corre por entre as colunas

da colina.

O colar de Carolina

colore o colo de cal,

torna corada a menina.

E o sol, vendo aquela cor

do colar de Carolina,

põe coroas de coral

nas colunas da colina.



O cavalinho branco

À tarde, o cavalinho branco

está muito cansado:

mas há um pedacinho do campo

onde é sempre feriado.

O cavalo sacode a crina

loura e comprida

e nas verdes ervas atira

sua branca vida.

Seu relincho estremece as raízes

e ele ensina aos ventos

a alegria de sentir livres

seus movimentos.

Trabalhou todo o dia, tanto!

desde a madrugada!

Descansa entre as flores, cavalinho branco,

de crina dourada!


Leilão de Jardim

Quem me compra um jardim

com flores?

borboletas de muitas

cores,

lavadeiras e passarinhos,

ovos verdes e azuis

nos ninhos?

Quem me compra este ca-

racol?

Quem me compra um raio

de sol?

Um lagarto entre o muro

e a hera,

uma estátua da Pri-

mavera?

Quem me compra este for-

migueiro?

E este sapo, que é jar-

dineiro?

E a cigarra e a sua

canção?

E o grilinho dentro

do chão?

(Este é meu leilão!)
 
 
 

O mosquito escreve

O mosquito pernilongo

trança as pernas, faz um M,

depois, treme, treme, treme,

faz um O bastante oblongo,

faz um S.

O mosquito sobe e desce.

Com artes que ninguém vê,

faz um Q,

faz um U, e faz um I.

Este mosquito

esquisito

cruza as patas, faz um T.

E aí,

se arredonda e faz outro O,

mais bonito.

Oh!

Já não é analfabeto,

esse inseto,

pois sabe escrever seu nome.

Mas depois vai procurar

alguém que possa picar,

pois escrever cansa,

não é, criança?

E ele está com muita fome.


Sonhos da menina

A flor com que a menina sonha

está no sonho?

ou na fronha?

Sonho

risonho:

O vento sozinho

no seu carrinho.

De que tamanho

seria o rebanho?

A vizinha

apanha

a sombrinha

de teia de aranha . . .

Na lua há um ninho

de passarinho.

A lua com que a menina sonha

é o linho do sonho

ou a lua da fronha?



Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol

ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,

ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,

quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa

estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,

ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .

e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,

se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda

qual é melhor: se é isto ou aquilo.



O menino azul

O menino quer um burrinho

para passear.

Um burrinho manso,

que não corra nem pule,

mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho

que saiba dizer

o nome dos rios,

das montanhas, das flores,

— de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho

que saiba inventar histórias bonitas

com pessoas e bichos

e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo

que é como um jardim

apenas mais largo

e talvez mais comprido

e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,

pode escrever

para a Ruas das Casas,

Número das Portas,

ao Menino Azul que não sabe ler.)


A pombinha da mata

Três meninos na mata ouviram

uma pombinha gemer.

"Eu acho que ela está com fome",

disse o primeiro,

"e não tem nada para comer."

Três meninos na mata ouviram

uma pombinha carpir.

"Eu acho que ela ficou presa",

disse o segundo,

"e não sabe como fugir."

Três meninos na mata ouviram

uma pombinha gemer.

"Eu acho que ela está com saudade",

disse o terceiro,

"e com certeza vai morrer."

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