segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Baú do Vinícius

A ARCA DE NOÉ

Sete em cores, de repente
O arco-íris se desata
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata.


O sol, ao véu transparente
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente


No céu, no chão, na cascata.



E abre-se a porta da Arca
De par em par: surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca



Noé, o inventor da uva
E que, por justo e temente
Jeová, clementemente

Salvou da praga da chuva.


Tão verde se alteia a serra
Pelas planuras vizinhas
Que diz Noé: "Boa terra
Para plantar minhas vinhas!"


E sai levando a família
A ver; enquanto, em bonança
Colorida maravilha


Brilha o arco da aliança.


Ora vai, na porta aberta
De repente, vacilante


Surge lenta, longa e incerta


Uma tromba de elefante.


E logo após, no buraco
De uma janela, aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece.


Enquanto, entre as altas vigas
Das janelinhas do sótão
Duas girafas amigas
De fora a cabeça botam.


Grita uma arara, e se escuta
De dentro um miado e um zurro


Late um cachorro em disputa
Com um gato, escouceia um burro.

A Arca desconjuntada
Parece que vai ruir
Aos pulos da bicharada


Toda querendo sair.


Vai! Não vai! Quem vai primeiro?


As aves, por mais espertas
Saem voando ligeiro


Pelas janelas abertas.


Enquanto, em grande atropelo
Junto à porta de saída
Lutam os bichos de pelo
Pela terra prometida.


"Os bosques são todos meus!"
Ruge soberbo o leão
"Também sou filho de Deus!"
Um protesta; e o tigre — "Não!"


Afinal, e não sem custo
Em longa fila, aos casais
Uns com raiva, outros com susto


Vão saindo os animais.


Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida.



Conduzidos por Noé


Ei-los em terra benquista
Que passam, passam até
Onde a vista não avista


Na serra o arco-íris se esvai . . .
E . . . desde que houve essa história


Quando o véu da noite cai
Na terra, e os astros em glória



Enchem o céu de seus caprichos

É doce ouvir na calada A fala mansa dos bichos

Na terra repovoada.

O GIRASSOL

Sempre que o sol

Pinta de anil

Todo o céu

O girassol

Fica um gentil

Carrossel.

O girassol é o carrossel das abelhas.


Pretas e vermelhas

Ali ficam elas

Brincando, fedelhas

Nas pétalas amarelas.

— Vamos brincar de carrossel, pessoal?


— "Roda, roda, carrossel

Roda, roda, rodador

Vai rodando, dando mel

Vai rodando, dando flor".

— Marimbondo não pode ir que é bicho mau!

— Besouro é muito pesado!

— Borboleta tem que fingir de borboleta na entrada!


— Dona Cigarra fica tocando seu realejo!

—"Roda, roda, carrossel

Gira, gira, girassol

Redondinho como o céu

Marelinho como o sol".



E o girassol vai girando dia afora . . .


O girassol é o carrossel das abelhas.


O ELEFANTINHO

Onde vais, elefantinho

Correndo pelo caminho

Assim tão desconsolado?


Andas perdido, bichinho

Espetaste o pé no espinho

Que sentes, pobre coitado?


— Estou com um medo danado

Encontrei um passarinho!





A PORTA


Eu sou feita de madeira


Madeira, matéria morta

Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.


Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de sopetão
Pra passar o capitão.



Só não abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa . . .)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.



Eu sou muito inteligente!


Eu fecho a frente da casa

Fecho a frente do quartel
Fecho tudo nesse mundo
Só vivo aberta no céu!


O PATO

Lá vem o Pato

Pata aqui, pata acolá

La vem o Pato

Para ver o que é que há.

O Pato pateta

Pintou o caneco

Surrou a galinha

Bateu no marreco

Pulou do poleiro

No pé do cavalo

Levou um coice

Criou um galo

Comeu um pedaço

De jenipapo

Ficou engasgado

Com dor no papo

Caiu no poço

Quebrou a tigela

Tantas fez o moço

Que foi pra panela.


A CACHORRINHA

Mas que amor de cachorrinha!


Mas que amor de cachorrinha!


Pode haver coisa no mundo

Mais branca, mais bonitinha

Do que a tua barriguinha

Crivada de mamiquinha?

Pode haver coisa no mundo

Mais travessa, mais tontinha

Que esse amor de cachorrinha

Quando vem fazer festinha

Remexendo a traseirinha?



AS BORBOLETAS

Brancas

Azuis

Amarelas


E pretas


Brincam

Na luz

As belas

Borboletas


Borboletas brancas

São alegres e francas.


Borboletas azuis

Gostam muito de luz.

As amarelinhas

São tão bonitinhas!


E as pretas, então . . .

Oh, que escuridão!

AS ABELHAS



A AAAAAAAbelha mestra

E aaaaaaas abelhinhas

Estão tooooooodas prontinhas

Pra iiiiiiir para a festa.

Num zune que zune

Lá vão pro jardim

Brincar com a cravina

Valsar com o jasmim.


Da rosa pro cravo

Do cravo pra rosa

Da rosa pro favo

Volta pro cravo.


Venham ver como dão mel

As abelhinhas do céu!


A FOCA

Quer ver a foca

Ficar feliz?

É por uma bola

No seu nariz.

Quer ver a foca

Bater palminha?

É dar a ela

Uma sardinha.

Quer ver a foca

Fazer uma briga?

É espetar ela

Bem na barriga!


A CASA


Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada


Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão

Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede

Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali

Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.




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